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Entrevista Especial – Marcelo Domingues é destaque no SNT/SUS

Líder de um dos mais importantes órgãos relacionados à Saúde, Marcelo Domingues fala sobre sua trajetória e como chegou ao cargo de coordenador-geral do SNT, o maior do mundo em transplantes

Administrador versátil e testado pelos concursos e cargos pelos quais passou, Marcelo Ataíde Domingues é coordenador-geral do Sistema Nacional de Transplantes, o maior do mundo. Entrevistado pela RBA, ele falou sobre sua trajetória, como está a saúde no Brasil e pontos fortes e fracos que poderiam ser melhorados.

Profissional apaixonado pelo que faz, ele explica como funciona o sistema de transplantes do Brasil, fala sobre a importância da formação educacional e da prática no trabalho de um administrador. Domingues também destaca a falta de valorização profissional, refletida nos baixos salários, e indica que é preciso criar uma legislação mais assertiva e severa para assegurar que a profissão seja exercida por aqueles que se formaram na área.

RBA – Marcelo, explique o que é o Sistema Nacional de Transplantes (SNT), qual é seu cargo lá dentro e quais são as suas atribuições no dia a dia.

O Sistema Nacional de Transplantes é o responsável pela regulamentação, controle e monitoramento dos processos de doação e transplante de órgãos, tecidos e partes do corpo humano, com fins terapêuticos. É também o responsável por conceder autorizações às entidades de saúde, equipes de captação e transplantadores de órgãos e tecidos. O Sistema é composto por uma Coordenação-Geral e uma ‘Central Nacional de Transplantes’, que atua em conjunto com as ‘Centrais Estaduais de Transplantes (CET´s)’, as ‘Organizações de Procura de Órgãos (OPO´s)’, as ‘Comissões Intra-Hospitalares de Transplante (CIHDOTT´S)’ e ‘Bancos de Órgãos e Tecidos’. Ocupo o cargo de coordenador-geral desde dezembro de 2021, e tenho como principais atribuições elaborar, acompanhar e avaliar as atividades de toda a equipe envolvida nas etapas do processo de captação, distribuição e transplante de órgãos e tecidos, bem como estar em constante contato com os centros transplantadores e demais parceiros, buscando sempre o aprimoramento de todo o processo.

Como foi sua trajetória de vida, onde nasceu e trabalhou predominantemente; narre como foi sua vida profissional e educacional. Conte, ainda, como você chegou ao cargo em que ocupa hoje.

Nasci no município de Alegre-ES, no ano de 1972, e iniciei minha formação profissional em Administração de Empresas, em 1993 — na ‘Faculdade de Ciências Contábeis e Administrativas de Cachoeiro de Itapemirim (FACCACI)’. Concluí a graduação no ano de 1996. Mas antes disso já era servidor público municipal, concursado, desde 1992, atuando durante muito tempo na área de licitações e contratos. Mudei para Brasília no ano de 2007 e, em 2011, concluí minha Especialização em Administração, Finanças Empresariais e Negócios, na ‘Escola Superior Aberta do Brasil (ESAB)’. Em 2014 assumi o cargo de administrador no Ministério da Saúde, proveniente de concurso público prestado em 2009. O convite para o cargo que atualmente ocupo veio em função de antes eu ser parte do quadro de assessores do ‘Departamento de Atenção Especializada e Temática’, onde pude demonstrar a aptidão, dedicação e seriedade que o posto requer. É uma função que demanda muito estudo, comprometimento e, ao mesmo tempo, é desafiadora e estimulante. Em razão do cargo que ocupo hoje ter muita afinidade com a área de Medicina, por ser administrador, percebo que em algumas situações existe certa desconfiança sobre minha capacidade em lidar com os processos do sistema de transplantes. Mas posso afirmar que venho conquistando credibilidade pela seriedade e comprometimento. Afinal, ser um excelente gestor exige tanta habilidade quanto ser um excelente médico transplantador.

 De que forma o senhor avalia a saúde brasileira? Se você pudesse fazer uma espécie de matriz SWOT, quais seriam os pontos fortes e fracos, ameaças e oportunidades do segmento?

Considero que a saúde no Brasil já tenha avançado bastante. Porém, entendo que seja necessário aprimorar as estratégias de distribuição deste orçamento que é um dos maiores que possuímos no país, em termos de recursos públicos.

“S” – O Brasil é o único país no mundo que oferta saúde de forma totalmente gratuita, sem seletividade de faixa etária, situação socioeconômica ou qualquer outra condição, se comparado a outros países que também disponibilizam saúde de forma gratuita.

“W” – Somos um país com dimensão continental, o que acaba inviabilizando condições mais favoráveis de acesso aos serviços públicos de saúde e sua fiscalização. Daí o ponto onde considero serem necessárias estratégias mais robustas de distribuição do orçamento disponibilizado à saúde.

“O” – É importante frisar que a saúde brasileira é composta por profissionais que são referências mundiais na maioria das especialidades da Medicina. Possuímos centros de saúde pública que ofertam diariamente, além dos serviços, os exames e medicamentos necessários ao tratamento, de forma 100% gratuita.

“T” – Por se tratar de saúde pública, em que pese termos um orçamento considerável, ele é limitado. Precisa atender a todo um trâmite burocrático e situações como tragédias ambientais, pandemia e outras que acabam por desarticular o sistema durante um longo período.

Somos o maior Sistema de Transplantes gratuito do mundo. O ‘Sistema Único de Saúde (SUS)’ é responsável por mais de 90% de todos os procedimentos de transplantes realizados no país. Em números absolutos, o Brasil é o 2º país que mais realiza transplantes no mundo. Uma melhor articulação entre governo, sociedade civil e iniciativa privada certamente traria melhorias para toda a população em termos de saúde. Mas este é um processo que demanda tempo, transparência e seriedade.

Administradores de formação, com conhecimentos técnicos e experiência de trabalho fazem falta nas estruturas governamentais? Em caso positivo, de que maneira a administração pode contribuir com o poder público? Por outro lado, o que falta aos administradores brasileiros para alcançar protagonismo, tendo em vista a riqueza de conhecimentos e práticas existentes na Ciência da Administração?

A experiência de um administrador é imprescindível em qualquer instituição, seja ela governamental ou não. É sobre esse aspecto que considero a necessidade de fortalecermos nossa classe.

Não existe um profissional que detenha experiência em todas as áreas de uma corporação. Então, o papel do administrador na gestão de processos é fundamental, pois ele recebe, durante sua formação, conhecimentos necessários para conseguir articular diversas áreas e extrair o melhor de cada uma delas.

Essa engrenagem funcionando de forma harmoniosa é o que garante os melhores resultados. Um administrador que se mantém atualizado, recicla seus conhecimentos, sabe atuar em equipe e possui habilidade de liderança traz consigo a certeza de que os processos sob sua gestão serão conduzidos ao sucesso.

Todo administrador deve reconhecer seus limites. Em se tratando de Gestão Pública, é necessário, ainda, possuir habilidade de articulação e manter o comprometimento e a ética, pois as pressões e interferências externas são frequentes.

Planejar e conquistar são tarefas árduas e só se tornam realidade quando se entende que a humildade precisa ser introduzida no processo.

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